segunda-feira, 7 de maio de 2012

Os trilhos

Escrevi isso aqui lá pelo final de fevereiro. É o sentimento que me causa ouvir "All I Want", do A Day to Remember, e eu fico feliz de poder descrevê-lo. E tô aproveitando o blog pra postar, pra que esse texto não se perca pelo facebook, ou na ocasionalidade de um hd queimado.

Eu me encontrava deitado sobre os trilhos, aguardando o momento em que começassem a vibrar. Foi sutil à princípio, um reverberar quase imperceptível que se alastrava pelo ferro. Foi ficando mais forte, até o ponto em que era possível notar a poeira que levantava das vigas. Me pus de pé e esperei até que o gigante de aço entrasse em meu campo de visão. E lá estava ele, veloz, imponente, reluzindo contra a luz alaranjada do pôr-do-sol. Desatei a correr pelos trilhos, em direção àquele colosso mecânico. Eu corria rápido, e sentia o vento resfriando o suor em minha testa, um turbilhão de pensamentos repetidos girava em minha cabeça: -Tudo que eu quero é um lugar pra chamar de meu. Eu sentia o trepidar dos meus passos em contato, ora com o saibro, ora com a madeira: -Tudo que eu quero é um lugar pra chamar de meu. Cada vez mais perto agora. Um apito soava, alertando que o trem não pararia. Eu também não: -Tudo que eu quero é um lugar pra chamar de meu. O tom do apito era quase uma súplica agora. Eu sentia a turbulência da aproximação com o imenso corpo. Me armei, com um ombro à frente, ainda em movimento, pronto para o choque: -Tudo que eu quero é um lugar para chamar de meu. Aconteceu. Por uma fração de segundo tudo pareceu tomado por vácuo. Nenhum barulho. E então o estrondo. A mistura de atrito, deslocamento de ar e metal retorcendo deram origem a um som ao mesmo tempo grave e agudo, dissonante, ensurdecedor. Vi os vagões que se engavetavam, e que sem espaço para se acomodarem no solo, começavam a subir e se revirar em várias direções. Caos, faísca, fumaça, fogo. Eu ainda não havia parado, e quando finalmente tomei controle do impulso remanescente da corrida, já havia percorrido toda a extensão do trem, e me virei para observá-lo. A fumaça que subia em padrões espiralados por entre as ferragens dava a impressão de que o metal se movia, como a respiração fraquejante de um enorme animal que jazia no solo, abatido, derrotado. E eu permanecia nos trilhos, de pé, ileso. E tendo o mundo inteiro à minha frente.

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